Namoro na infância deve ser evitado, alertam especialistas.

Carrinhos e bonecas foram trocados por smartphones, e brincar na rua não faz mais parte do cotidiano. O dia a dia das crianças está diferente, mas quando se trata de namoro, a ‘regra’ é viver ‘como nossos pais’. A recomendação não vem de nenhum responsável careta, mas de especialistas em desenvolvimento infantil. Todos são unânimes: relacionamentos assim não são recomendados para a faixa etária.


Namorar na infância, ou seja, antes dos 12 anos de idade, é pular uma etapa da vida, aponta Fábio Barbirato, chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. “Não há namoro sem conotação sexual e estimular a sexualidade de modo precoce não é adequado. E isso vale para qualquer século”, aponta.

O psiquiatra lembra que mudanças físicas — crescimento de pelos pubianos, menstruação e o surgimento da voz grave nos meninos — marcam o início da adolescência, época em que, geralmente, começa a atração pelo outro. “Será que não faz mal namorar antes de passar por essa questão fisiológica? Talvez só saibamos daqui a vinte anos, mas posso garantir que, fisiologicamente, a criança não está preparada”.

Se namorar na infância não faz parte da natureza das crianças, por que têm sido cada vez mais comuns pequenos casais? Segundo a psicoterapeuta Andreia Calçada, uma das questões que interferem no relacionamento precoce é a exposição às ‘realidades de adultos’ retratadas em músicas e programas televisivos. Outro fator — que afeta mais as meninas — é se vestir e se comportar como pessoas mais velhas. “Muitas famílias não têm cuidado em controlar o que as crianças veem. Não é raro ver meninas reproduzindo o comportamento de mulheres, rebolando ao dançar, por exemplo”, exemplifica. As meninas também acabam sendo mais suscetíveis porque amadurecem mais cedo. De acordo com Fernando Chacra, pediatra da Unicamp, devido à estrutura do organismo, a puberdade ocorre nas meninas entre os 8 e 13 anos e, nos meninos, entre 9 e 14 anos.

Assim como Barbirato, Andreia acredita que a infância não pode ser dispensada. Ela explica que crianças devem brincar e é por meio das atividades lúdicas que são desenvolvidos aspectos motores, criatividade e inteligência, além da capacidade de se expressar e de demonstrar sentimentos.

“A criança precisa viver esse momento lúdico para passar para a etapa posterior. Viver como um adultinho quebra esse ciclo”. E esse rompimento pode trazer consequências futuras. De acordo com a especialista, na fase adulta a pessoa pode se sentir frustrada por não ter vivido, adequadamente, a infância e a adolescência.

“É aquele caso de quem vira adolescente aos 40, porque sentiu que não viveu o que deveria”. Ainda segundo Andreia, na hora de educar os filhos, essas pessoas podem ficar confusas em relação às fases dos pequenos.

Comportamento humano não é uma ciência exata, mas a especialista acredita que por volta dos 15 anos é saudável começar a namorar. Para Barbirato, os pais devem participar desse momento e é fundamental não ter medo nem vergonha de conversar sobre sexualidades com os filhos. 

Fonte: O DIA.

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